quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher

Ao discriminar positivamente um cidadão em relação a outro esta lei apresenta-se como «menos legal», injusta talvez para o resto do conjunto da sociedade enquanto abre excepções em função do sexo. Mas é essa mesma sociedade é a que ainda discrimina por sexos, por géneros. A masculinidade não é sinónimo de psicopatia nem o ódio ao sexo feminino é exclusivo da masculinidade. É só uma consequência social.

Sociedade não é só o ente abstracto que vemos nas estatísticas anuais, os dados macroeconómicos ou os índices inflacionistas anunciados pelos governos. Por sociedade deve-se entender cada relação matrimonial, laboral, a educação dos filhos, o tratamento das avós, o piropo à menina que passa por uma obra, o apalpar o rabo a uma mulher no metro, a divisão das tarefas do lar, quem tem direito ao aumento do ordenado. Mais do que procurar a simples penalização de um acto violento instalou-se a urgência de tipificar um bem jurídico tão óbvio como a dignidade feminina, passível de protecção estatal, policial e legal, parte indispensável do ordenamento social. Na era do descobrimento do genoma, da aceleração de partículas e do Prémio Príncipe das Astúrias a António Damásio, pouco abona a favor do nosso mundo que ainda se debata a necessidade de igualar direitos. Não é uma questão de feminismo, sexismo, paranóia de senhoras desocupadas com sutiãs a mais no armário, mas sim do reconhecimento dos Direitos Humanos, elementares, como declara a resolução da ONU, para o desenvolvimento também económico das nações.

Hoje, 25 de Novembro, Santa Catarina de Alexandria, Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, as televisões lembrarão as violações, mutilações, os maus tratos, as lapidações. Mas não chega. Ao menos enquanto a mulher não for igual, um ser humano, e não essa coisa menor cuja vida é menos valiosa que um livro de cozinha.

Medo...

Foto daqui.


De Língua Portuguesa não, com certeza.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ao João

Dizes que é uma miséria veres os teus próprios filhos
transformados em vadios e drogados
- o teu orgulho de pai está ferido.
Apressas-te a culpá-los, mais à sua geração,
por não quererem alinhar na engrenagem
que eles viram esmagar o teu pobre coração.

Eles já estão fartos de saber o que tu queres deles.
Eles já estão fartos de saber quem quer vendê-los.
Eles já estão fartos de ouvir dizer: tem que ser.
E agora eles tentam viver doutra maneira qualquer.

Faz-te imensa confusão vê-los andar pelas ruas
com o olhar fixo em qualquer ponto do espaço
e umas maneiras tão diferentes das tuas.
Faz-te imensa confusão vê-los tristes e cansados.
para ti, eles não passam de uns preguiçosos,
contagiados pelas más companhias.

Eles já estão fartos de saber o que tu queres deles.
Eles já estão fartos de saber quem quer vende-los.
Eles já estão fartos de ouvir dizer: tem que ser.
E agora, tentam viver doutra maneira qualquer.

Quem é que os levou a ser assim tão frios e indiferentes
para com os pais que tanto se esforçaram
para que eles pudessem vencer toda a gente?
Quem é que os levou a ser tão ingratos e egoístas
para quem não olhou a sacrifícios
para que os seus filhos dessem nas vistas?

Eles já estão fartos de saber o que tu queres deles,
Eles já estão fartos de saber quem quer vende-los.
Eles já estão fartos de ouvir dizer: tem que ser, pá.
E agora eles tentam viver doutra maneira qualquer.

Eles já estão fartos de saber que a guerra existe.
Eles já estão fartos de saber que a Fome existe.
Eles já estão fartos de saber que a Família existe.
Eles já estão fartos de saber que a Igreja existe.
Eles já estão fartos de saber que o Estado existe.
Eles já estão fartos de saber o que os deixam fazer.


Eles já estão fartos, Jorge Palma

domingo, 14 de novembro de 2010

Músicas de vómito #3



Não percebo como é que uma cadência banal de notas musicais e uma letra a martelo, com esta complexidade...

pintei o teu corpo numa tela
esculpi o teu rosto à luz da vela
pintei o teu corpo... pintei


... fazem tamanho sucesso. Alguma mente brilhante achou que valia a pena passar isto 300 vezes por dia nas rádios e lá está... a malta consome o que lhe impingem.

Músicas de vómito #2

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Fast food

Dê Érres

É impressionante como os enfeites de nome próprio continuam na moda. São os doutores, os engenheiros, os arquitectos. Até a Amélia que se conhece desde os 5 anos - que nem sequer, alguma vez, teve um curso superior ou foi médica - é doutora Amélia. Foi ela que, nos tempos dos narizes ranhosos, até a assoava com a ponta da saia, enquanto fazia bolos na cozinha com a mãe, mas perante um eventual encontro no espaço profissional é a doutora Amélia. Mais pelos outros do que pela Amélia, como se aos outros lhes faltasse o chão se alguém, algum dia, ousasse não tratar a Amélia como doutora Amélia.

Falta-me franca paciência para este tipo de ensinamentos e assistir a eventuais advertências quando estes enfeites são omitidos.

Algo se passa nestas cabeças. Falta de ocupação, de sexo, de auto-estima, de terapia, quiçá.

Pior ainda só resolver a minha cabeça e arrancar das entranhas a tranquilidade aquando destes episódios dramáticos.