quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O rei do bolo-rei

O Henri ilustra assim:

A Vieira do Mar di-lo assim:
Acabou de ouvir dizer na SIC que nós, como "povo", devíamos ter "vergonha" por haver portugueses que ainda passam fome. Atendendo a que quem acabou de dizer esta barbaridade foi a abécula que por enquanto é a mais alta figura da nação e que, portanto, tem o poder e a possibilidade que o comum do zé povinho não tem para alimentar muitos terceiros e que não faz, seguramente, um corno em prol disso, quem tem vergonha dele sou eu.



Eu não o faria melhor. Até porque não tenho palavras, nem talento plástico para tamanha imbecilidade.

(Des)pertenças

A família onde vimos desaguar é algo que me inquieta. Podia ser nesta ou noutra qualquer, quando nascemos não sabemos o que vamos encontrar, de que sangue somos feitos, que feitios ou propriedades estamos já a herdar. O que é certo é que nem sempre a correspondência faz muito sentido. Suponho que a sensação de des-pertença deve acontecer a qualquer um, se não constante, pelo menos em algum momento. Seja nos comportamentos, nos interesses, nos modos de vida e, também provavelmente, pelos percursos que sempre divergem e que nos vão formando mais assim ou mais assado. A razão deve ser exactamente essa: somos aquilo que vamos construindo, consoante o que vamos vivendo pede. Não somos tanto a genética, mas mais uma construção. Podemos até projectar um modelo de ser que nos pareça mais adequado e criamo-nos até lá chegar.

Mesmo assim, esta ausência de ligação causa-me algum desconforto. É suposto que as pessoas e as coisas encaixem, quando à partida vêm do mesmo molde e, afinal, o que também é suposto é que nos sintamos encaixados quando, aparentemente, todos os outros - nossos pares - o sentem. Entre os vários papeis que vamos desempenhando como pais, cidadãos, profissionais, amigos ou amantes, é esperado que o façamos com propriedade e sucesso. O social será sempre uma parte do particular, não há volta a dar: sem certos ou errados a falha será sempre apontada de fora, e o estigma do incumprimento atribuido.

Parece que caminhar sozinho é muitas vezes a resolução tácita entre as partes.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Comer, orar, amar

Uma grande chachada, é o que me apraz dizer. Tudo muito bonito, ai que estou tão insatisfeita, uma grande vontade de dar à volta à vidinha, viajar, conhecer um Javier Bardem e comer com fartura, sempre de cabelo impecavelmente penteado mesmo em retiro espiritual. Olha, fofinha, assim também eu. Aliás, hás-de dizer-me onde se arranjam vidas e inquietações dessas, com soluções tão fenomenais.

Retiram-se duas ideias mais ou menos centrais que lá vão passando, entre devaneios sem grande consistência:
- gajas, façam o favor de comer e deixem-se de merdas de dietas e obsessões inventadas para agradar a seja lá quem. De facto, se nunca um homem fugiu a sete pés quando vos teve nuas no quarto é porque não devem estar assim tão mal.

- perdoem-se. E isto não é fácil, diz-vos quem já rondou os meandros da coisa. Grande parte das nossas frustrações e consequentes depressões passam pela culpa. Culpas que nem vêm de fora, mas de dentro, que nos atribuimos por excesso de regras, de perfeccionismo, de medo, de objectivos. Ou porque, inevitavelmente, infligimos dor a alguém. Nada é preto ou branco e a merda do cinzento vem sempre complicar as coisas. Conseguir libertar-se desse peso tira-nos quilos de cima. Não conseguir libertar-se implica a aceitação de uma vidinha de auto-comiseração, desalento, profunda tristeza e falta de auto-estima. Nada disto é fácil, dá trabalho e não acontece de repente.

E é isto que retenho da historieta. Nem o Javier me remexeu os fundilhos.