quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

(Des)pertenças

A família onde vimos desaguar é algo que me inquieta. Podia ser nesta ou noutra qualquer, quando nascemos não sabemos o que vamos encontrar, de que sangue somos feitos, que feitios ou propriedades estamos já a herdar. O que é certo é que nem sempre a correspondência faz muito sentido. Suponho que a sensação de des-pertença deve acontecer a qualquer um, se não constante, pelo menos em algum momento. Seja nos comportamentos, nos interesses, nos modos de vida e, também provavelmente, pelos percursos que sempre divergem e que nos vão formando mais assim ou mais assado. A razão deve ser exactamente essa: somos aquilo que vamos construindo, consoante o que vamos vivendo pede. Não somos tanto a genética, mas mais uma construção. Podemos até projectar um modelo de ser que nos pareça mais adequado e criamo-nos até lá chegar.

Mesmo assim, esta ausência de ligação causa-me algum desconforto. É suposto que as pessoas e as coisas encaixem, quando à partida vêm do mesmo molde e, afinal, o que também é suposto é que nos sintamos encaixados quando, aparentemente, todos os outros - nossos pares - o sentem. Entre os vários papeis que vamos desempenhando como pais, cidadãos, profissionais, amigos ou amantes, é esperado que o façamos com propriedade e sucesso. O social será sempre uma parte do particular, não há volta a dar: sem certos ou errados a falha será sempre apontada de fora, e o estigma do incumprimento atribuido.

Parece que caminhar sozinho é muitas vezes a resolução tácita entre as partes.

1 comentário:

Anónimo disse...

eu voto nessa de se ir sozinho. é mais seguro ;)