Sim, existe.
O mesmo que ramerrão s. m.
1. Som monótono e continuado.
2. Salmodia, litania, ladainha.
3. Rotina; costumeira.
Di-lo a DonaInês vezes sem conta, que gosta do seu ramerrame e que já não passa sem ele. Não há cá desvios ou invenções, a vidinha é levada assim e pronto. No fundo, acaba por ser tudo mais seguro por ser expectável, porque já se conhece, porque segue um trilho, uma norma e desagua em algo tranquilo, certo e feliz.
Preocupa-me.
No ramerrame andamos todos. Mais dia menos dia, espera-nos. Aliás, procuramo-lo. Enquanto se corre quase sem fôlego por um lugar ao sol, tudo parece alucinadamente aventureiro. Uma luta febril, até irreal e lá vamos ofegantes sempre a "quase chegar" a qualquer lado que não se sabe muito bem onde, mas... o tempo parece urgir. Depois é fácil, faz-se algo relativamente útil, dá-se uns toques numa casinha, arranja-se rapazinho com bom aspecto e está ligada a engrenagem do dito*.
Dou por mim na mecânica sem saber muito bem se lá quero estar e como lá fui parar. A sensação de concordância com a máquina é inegável, mas não tanto a certeza de bom caminho. Sente-se o espectro da monotonia, da apatia, do bloqueio cerebral, da resignação. É complicado fugir-lhe à teia, manter a cabeça à tona e conseguir ver para lá do óbvio e do confortável.
É trabalho de casa, como lavar a loiça a seguir ao jantar.
*ramerrame (vide supra)
2 comentários:
Eu sei que isto soa a cliché, mas acho mais aventureiro manter a cabeca à tona e sentir-se satisfeito sabendo de todas as outras possibilidades.
Parece-me que difícil e importante é alimentar um certo surrealismo. Epá e nao entrar em esquemas chatos. Ui agora apetecia-me horas de discussao sobre o tema.
De qualquer modo, pegar numa mochila e andar a fugir pelo mundo é fácil. Além disso, nao nos iludemos, em qualquer caminho há rotina e a respectiva apatia, depende de como se o segue. Ingénuo pensar que nao.
É verdade, sim. Mas que essa rotina aceite também seja combatida ou remexida, de vez em quando.
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